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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Meias verdades sobre o tamanho do Estado

É notório que os maiores riscos não estão nas grandes mentiras e sim nas meias verdades ou em verdades misturadas a mentiras ou a fatos nebulosos. A mentira deslavada é, na maior parte das vezes, facilmente percebida e rechaçada. Já o embolado de meias-verdades com pequenas falácias ou fatos de difícil verificação, são muito mais perigosos. Passam despercebidos e crescem e são repetidos ad-nauseum, até que viram “verdade” por repetição. Algo na linha do “nunca antes na historia deste país”!

Temos hoje no mundo da política econômica algo assim. As grandes discussões atuais são centradas no debate sobre o tamanho ideal do Estado na economia. Aqueles que defendem um Estado maior lançam mão de dois exemplos aparentemente irrefutáveis neste sentido: 1) a incrível ascensão econômica da China, um país com enorme presença do Estado; e 2) a recente crise econômica dos EUA, o grande defensor do capitalismo e da dominância do setor privado na economia. Os argumentos vão na seguinte linha: se o grande defensor do capitalismo se encontra em crise e teve de lançar mão de pacotes públicos de salvamento e a China se destaca no cenário internacional, parece óbvio e inegável que erram os que acham que o Estado deveria ter participação limitada na Economia de qualquer país.

Nada poderia estar mais longe da realidade. Trata-se de uma análise apressada, misturada a um amontoado de meias-verdades e, provavelmente, a interesses daqueles que preferem Estados maiores para poderem mais facilmente se beneficiar de um processo que decide sobre o destino de grandes somas sem a devida fiscalização.

No caso da China, o que ocorre é exatamente o contrário do que diz esta análise mais superficial. Apos décadas de atraso e baixo crescimento, a China retomou lugar de destaque mundial ao decidir aos poucos reduzir o tamanho do Estado e permitir o desenvolvimento da iniciativa privada. Sem dúvida o tamanho do Estado na China ainda é e continuará sendo muito grande por muito tempo. Mas o forte crescimento econômico aconteceu exatamente quando foi tomada a decisão de reduzir o tamanho do Estado, ainda que gradualmente.

No caso dos EUA, a grande lição da recente crise não é nova e não é a de que o capitalismo e a economia de mercado deveriam ser evitados. E sim o lembrete de que os serem humanos são, como sempre foram, humanos! E como tal, são susceptíveis a manias, tentações, ganância e tomada de risco desmedido. Ou seja, o que Keynes chamou de “Animal Spirits”. O que se pode depreender daí é a importância de um Estado vigilante, que desenvolva formas de regulação e que consiga desenvolver regras prudenciais e manter certa vigilância sobre a atuação dos indivíduos e empresas.

Ou seja, na visão do autor e segundo a crença de boa parte dos membros deste blog, estes dois exemplos, tão citados por defensores de um Estado maior, com mais poder, mais intervencionista, etc, não são exatamente verdadeiros. Tem pedaços de verdade, misturados a uma série de meias-verdades, leviandades e relações causais tortas que podem convencer indivíduos menos atentos, mas que não são assim tão difíceis de desqualificar.

Um comentário:

  1. A China, assim como o Brasil, precisa que os EUA permaneça em crise por 20 ou 30 anos, para que o padrão de vida de suas sociedades alcance o padrão americano. Ou seja: ainda que em crise, os EUA são muito melhores pra se viver do que a China ou o Brasil, e assim será por pelo menos duas décadas.

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